Paris em Preto & Branco

Certo dia, me lembrei hoje este
fato, estava sentado no tradicional Papo Quente, um bar bem frequentado, que um dia pertenceu ao meu grande amigo, já falecido, Joelcio Gomes Rangel, ouvindo Apollo Ramidam, um dos grandes nomes da música campista, e em  um dos intervalos um senhor, beirando aos oitenta anos, contava suas aventuras amorosas e suas viagens a Paris, Mônaco e Nice, e um dos presentes duvidou de suas histórias e o desafiou. 

Bem ao estilo Pedro Pedreira, da "Escolinha do Professor Raimundo", o moço exigiu que o seu companheiro, contador de histórias maravilhosas, mostrasse fotos ou documentos. O senhor, já irado, prometeu ir à casa buscar as fotos e mostrar ao desafiante. 


Dito e feito, pediu a um outro companheiro da mesa para que o levasse até sua casa e, depois de alguns minutos, voltou ele, com várias fotografias, ainda em preto e branco, algumas desbotadas pelo tempo, pelo visto as fotos são da década de 60 e cada uma delas era mostrada com uma história sensacional, conquistas amorosas e passeios bacanas em iates e em clubes franceses, que demonstra que o  "velho", assim era chamado no Papo Quente, teve uma vida bem vivida e cheia de aventuras em todos os sentidos.

Voltei por lá uma duas vezes e nas duas o senhor em questão
estava por lá, com as fotografias enfiadas em um álbum improvisado, e foi aí que entrei na roda, sem ser chamado, mas com muita vontade de fazer com que o moço não perdesse as fotos ou algum idiota metido a Pedro Pedreira pudesse estragar aquele registro histórico do cidadão. 

Me aproximei de sua mesa e perguntei: -Por acaso o senhor tem
 um celular decente, que eu possa salvar estas fotos? 

- Que nada, não tenho celular, mas se for para salvar minhas relíquias sou capaz de comprar um agora mesmo, você me ajuda? Diz ele, já pensando em entrar no meu "jogo". 

Fomos até ao Shopping, na Pelinca, ele comprou um bom Smartphone, afinal dinheiro o cara tem e eu sabia, e nos sentamos em um canto do Papo Quente, onde ninguém perturbasse nosso momento. Fotografamos uma a uma das quase cem fotos, o inscrevi em um programa do Google e salvei todas as fotos em coletâneas com data, o "velho" tem boa memória, contando cada uma das conquistas e revivendo cada momento dos cliques ali colocados sobre a mesa. 

Conto esta passagem com lágrimas nos olhos, foi um dia inesquecível para mim e para ele, que nos dias seguintes, há testemunhas, desafiava a todos os presentes a mostrar fotos de viagens, de aventuras e chamava todos os amigos para olhar o seu álbum, no celular, e seu astral mudou completamente. 

Ganhei um amigo, ganhei um fã e um cara para prosear sobre nossas viagens e para beber, eu a minha cerveja e ele o seu wisky, mas sempre ao som de uma boa música lá no Papo Quente, muito embora já faça um tempão que não apareço por lá nos sábados à tarde. 

Todos os dias em que olho minhas fotos eu me lembro do Doutor do Papo Quente. 

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