Histórias de trinta anos de rádio

Trinta anos do jornal Dois Estados e, coincidindo com o evento, trinta anos deste que vos fala em Campos, que naquele já longínquo 1985 ainda não era dos Goytacazes e era apenas intrépida e formosa como diziam os poetas e cronistas da cidade. 

Se aqui no jornal eu contei causos da cidade, falei dos amigos e das coisas de minha terra, por aqui vivi intensamente o jornalismo, minha paixão,  o radialismo, minha melhor forma de viver, e o futebol, que está no meu sangue desde garoto pequeno na Praça Dona Ermelinda na "Santa Terrinha". 

Por aqui falei com meus ídolos, narrei gols de título, na campanha da Terceira Divisão do C.E Rio Branco, clube que me viu nascer como setorista para a Campos Difusora, comentei grandes  jogos, inclusive o primeiro da final do Módulo Branco, como a Terceira Divisão foi rebatizada em 1987, entre Americano x Caxias/RS, entrevistei grandes craques, com exclusividade e não como hoje que os jogadores só falam em coletiva. 

Por aqui ganhei respeito dos torcedores dos três gigantes, até hoje me perguntam qual o time do meu coração e acreditam quando digo que não há preferência entre eles e sim um grande e profundo respeito pelas três torcidas que me aceitaram e me deram a alegria de ser setorista em cada um destes e levar diariamente as novidades do Calabouço, do Parque Tamandaré e da Rua do Gás, como nós contávamos nos microfones das emissoras para identificar Rio Branco, Americano e Goytacaz para os ouvintes. 

Aqui, na Rádio Cidade de Campos, ganhei um dos dois prêmios que enfeitam minha prateleira e estão em minha memória como reconhecimento de tudo que fiz pelo jornalismo, fui BOLA DE OURO em 1987, que pela primeira vez foi internacional e, ao lado do meu grande ídolo, Jorge Cury, apadrinhado pelo amigo Geneci Pestana Alvim, recebi de JJ o mais cobiçado prêmio do radialismo brasileiro, e aqui um parentese para agradecer o carinho de Dawvan Lima, sem o qual não teria inscrito meu trabalho e conquistado a tão desejada BOLA DE OURO. 

Foram 25 anos de trabalho em praticamente todos os veículos de mídia de Campos dos Goytacazes, Campos Difusora, Rádio Cidade de Campos, onde formamos a primeira equipe independente do Estado do Rio e conquistamos uma cidade de audiência, conquistamos porque éramos um time forte com Sérgio Tinoco, Pessanha Filho e Paulo Lacerda a meu lado e com o apoio de Luiz Augusto, Renato Borges, Luiz Paulo Ribeiro e José Augusto, tomamos de "assalto" o rádio do torcedor campista e marcamos presença em duas ou três temporadas consecutivas. Anos dourados e vitoriosos do rádio campista. 

 Conversei com os grandes craques e fui um dos craques do microfone da Difusora, falei com Zico, nos vestiários, no hotel e no gramado, chamei Romário no canto do hotel para uma exclusiva e o Baixinho me contou que nunca ouviu falar de Miracema e seu pai não nasceu na nossa terra, explico: Rolava um boato na cidade que Romário era filho do Seu Valeiro, funcionário da Casa Marcelino, e eu não poderia deixar passar em branco. Certo? 

Sentei com Emil Pinheiro e Paulinho Criciúma, de boas lembranças para o torcedor do Botafogo, e vi que o atacante, além de grande jogador, é um ser humano da melhor qualidade e protagonizou uma cena que jamais esquecerei. Momentos antes da preleção uma criança do Espírito Santo, botafoguense fanática, com problemas sérios de nascença, queria conhecer o craque e... bem a história eu conto depois, mas ele foi até o saguão e pegou o garoto e foi para a preleção com ele no colo. Choro geral na portaria do Hotel Pálace e aprovação total de Emil Pinheiro para o ato de seu craque. 

Andei por este país e por este estado acompanhando Americano, Goytacaz e Rio Branco, vi o basquete masculino fazer bonito em Nacionais e tive o prazer de conviver com um dos treinadores mais competentes do basquete brasileiro, Zé Boquinha, e me tornar amigo pessoal do hoje comentarista da Espn, de ser assessor de imprensa de Cláudio Mortari e participar ativamente da vida do melhor voleibol do Brasil, time formado e comandado por Luizomar de Moura que trouxe grandes estrelas para a cidade, e, para citar apenas uma, a líbero Fabi, hoje na Globo e Medalhista Olímpica. 

Nos microfones da Difusora, Cultura, Continental e Cidade pude conversar com Sócrates, Romerito, Roberto Dinamite e ver Célio Silva nascer para o futebol vestindo a camisa do Americano e fazendo um jogo impecável contra o Vasco da Gama, parando Roberto Dinamite e em seguida seguir para o Rio para integrar o elenco vascaíno várias vezes campeão. 

Vi o último título do Goytacaz, na Série B, subindo para a Elite e no mesmo ano cair e nunca mais subir, mas sou testemunha que a torcida alvianil não se apequena e mostra força durante todos estes 25 anos de tentativa de retornar a Primeira Divisão do Rio. Vi, infelizmente, o fim do Rio Branco, o fechamento do Campos Atlético e não fui participante ativo do seu retorno, mas estou feliz com a presença do Roxinho na Segunda Divisão do Rio novamente. 

Trabalhei com monstros do rádio brasileiro como Aloysio Parente, José Nunes da Fonseca, Josélio Rocha, conheci radialistas famosos e dividi com eles espaços à beira do gramado e sempre um tempinho para prosa com Eraldo Leite, Danilo Bahia (que saudade do amigo), Elso Venâncio, Cláudio Perrot, o incrível e extraordinário Denis Menezes, sempre atento e sempre carinhoso com os companheiros do interior.

Discuti e briguei, quase no tapa, com Gilson Ricardo, dividi cabine com Waldir Amaral e Jorge Cury, ouvi atentamente as prosas com Ruy Porto, João Saldanha e Doalcei Camargo, vi crescer Luiz Penido, que sempre acreditei que faria sucesso e tantos outros gênios que já nos deixaram ou que penduraram os microfones bem no alto. 

Só fiz amigos, exceto Gilson Ricardo, e que hoje ainda trocam mensagens comigo e me fazem sentir importante e quando chego na terrinha e alguém quer um dedo de prosa, são muitos que me alegram com este pedido, um pelo menos lembra que já me ouviu por aqui ou ficava com o rádio de pilha colado no ouvido tentando captar as ondas médias e curtas das emissoras de Campos. 

Encerrando vou me lembrar do meu tio Caio Picanço, taxista na cidade do Rio de Janeiro, que na hora do "Mundo da Bola", da Rádio Nacional, do qual fui correspondente em Campos por vários anos, aumentava o rádio do carro e dizia para o passageiro: "Este é meu sobrinho Adilson, lá de Miracema" e, em uma destas, quem estava no banco de tras era seu ídolo Luiz Mendes, que disse: "Este garoto é bom, vou trazer para a Nacional em definitivo". 

Foi meu maior prêmio e foi o grande dia, segundo meu tio Caio, para ele e todos nós. 

Comentários

TADEU MIRACEMA disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
TADEU MIRACEMA disse…
Uma linda história, de vários capítulos, contada em um resumo fantástico, que nos dá uma pequena noção de sua importância para a imprensa esportiva de Campos e de todo o estado do Rio. Um prêmio Bola de Ouro não é para qualquer um! Fique sabendo, meu caro amigo Adilson Dutra, você faz parte do seleto grupo de personalidades de nossa cidade, mesmo que não reconhecido por alguns, mas os seus verdadeiros amigos, que são muitos, sabem dar o merecido valor por todos os obstáculos vencidos pela sua capacidade de passar por cada um deles. E foram muitos, pois sei de algumas histórias, e mesmo estando afastado do rádio, temos o prazer de ler diariamente o que você escreve aqui no blog, transportando para os seus textos toda a sua emoção e o amor por aquilo que faz, e muito bem feito. Além de parabenizá-lo, quero agradecer por sua amizade e que continue por mais trinta anos contando histórias e mais histórias... Um forte abraço!

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