E e a música por aí

Eu e a música temos uma grande afinidade e, de vez em quando, nos encontramos por aí para matar a saudade dos velhos tempos de Banda Sete, dos Festivais da Canção, das serestas em Miracema e arredores, das bandas de baile ou de shows e outros grandes momentos, uns destes que são proibidos para menores, vividos na juventude e na adolescência lá na minha Miracema.

A primeira surpresa veio em um restaurante, em Bom Jesus do Itabapoana quando conheci Cláudio Faissal, saudoso intérprete da música italiana, que em um intervalo perguntou: "Alguem aí que arriscar e fazer meu intervalo?" Não pensei duas vezes e assumi o comando da voz e parece que agradei, o moço me convidou outras vezes para o mesmo fim, ou seja, dar um tempo para ele comer, beber e namorar.

Um grande dia foi vivido no Miracema Campestre Clube, que trouxe o seresteiro Silvinho, aquele um dia fez um sucesso tremendo e vivia no seu baixo astral. Nos reunimos, em um canto do salão, e demos o maior apoio ao artista, que chegou até a nossa mesa, perguntou quem queria acompanha-lo e, na maior cara de pau, deve ter sido o Campari e a cerveja, tomei o microfone para mim e sai cantando seus sucessos. Que vergonha!

Aqui, na AABB/Campos quase acontece o mesmo com Taiguara, que me ouvindo contar histórias de festivais, se aproximou e começou a cantar alguns sucessos seus, gostei, me empolguei e acabei dividindo com ele o palco em pelo menos uns cinco minutos, que foram de fama relâmpago para um público que nem sequer sabia quem era eu.

Madrid, 2005, Plaza de Spaña, e um músico italiano soprava seu saxofone com maestria e ao ver o quarteto se aproximando e gostando do que ouvia, pertuntou: "Brasilianos?" Ao ter a resposta positiva começou a tocar Tom Jobim e mandou delá: "Cantem Wave" e foi a dica, me aproximei, peguei o tom do artista de rua e soltei a voz e em poucos segundos estavamos rodeados de turistas aplaudindo e pedindo mais, e o melhor, para ele, claro, enchendo o chapéu do italiano de moedas de Euros.

2008, Veneza, na gôndola tradicional nos canais da cidade italiana, e o acordeonista e o cantor mandavam bem nas canções italianas dos anos 60 e lá do alto um grupo de brasileiros pedia pagode, samba, sertanejo e o moço do acordeon me olhou como quem diz: "o que eles querem" e nem dei tempo para o cara pensar e mandei, em um italiano muito ruim, a tradicional Al di la e daí pra frente foi uma seleção de canções que só mesmo nos tempos de Grémio do Nossa Senhora das Graças eu tinha ouvido.

Ainda em 2008, no Vaticano, na longa fila para entrar na Capela Sistina, um mexicano tocava seu acordeon e os Carabineres tentavam impedir. Tocou uma, o guarda mandou parar, tocou a segunda, outra reprimenda, e quando ele tocou a terceira, Cielito Lindo, eu assumi a voz, puxei o coro para que os turistas acompanhassem e o Carabinere entendeu o recado e saiu de fininho como se concordasse com nossa festa improvisada.

2011, Viena, Áustria, em noite tradicionalmente austíaca, mais uma vez um grupo de brasileiro quer atrapalhar a noite e pede o quarteto de cordas para tocar samba, pagode ou música sertaneja. Sorte que eles não entenderam e perguntaram ao guia: "O que eles querem ouvir", e quando o nosso guia traduziu para mim eu disse: Não pede isto, pelo amor de Deus, pede para tocar alguma coisa do filme Noviça Rebelde. E lá foram duas horas de belas músicas austríacas e o público foi ao delírio. Ufa!, desta vez eu não cantei, mas ajudei a turma se divertir.

Prá fechar o papo, ainda em 2011, em Cracóvia, Polônia, um frio louco, chegava naquele dia a três graus negativo, entro na loja Adidas para comprar um casaco mais pesado e ao adentrar ao recinto o que é que tocava? Ah! Se eu te pego, lembram disto? E ao ouvir sai correndo, como um louco, da loja em direção a outra mais perto para tentar comprar, e a atendente foi atrás e queria saber o que houve que me espantou, e o guia, já sabendo do meu gosto musical e já ficando meu fã, disse em bom polonês: "Ele não gosta deste tipo de música e odeia este cara". E, à noite, o guia me fez dançar a polca com as polacas.

A música brasileira é maravilhosa, por onde a gente anda escuta, mas cá pra nós, bem baixinho, que ninguém nos ouça, será que se um polonês chegar por aqui, em  um ensaio de Escola de Samba, vai pedir para a bateria tocar uma Polca? Será que um turista austríaco gostaria de ouvir uma valsa em uma roda de samba de raiz? Ou um portuguê

s pediria um fado em um encontro de pagodeiros autênticos?

É justamente o que faço, na Argentina eu danço tango, e gosto, na Espanha o flamenco, e me encanto, e aqui gosto de tudo, menos deste falso sertanejo que chamam de universitário, não degusto e não tolero. Ponto final.

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